segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Era final de tarde do domingo. Um domingo inativo pra Elis, como a maioria deles. Aliás, domingo já era considerado como um dia propício pra se criar e desenvolver o tédio. Foi quando Elis teve a idéia de fazer um chá, um chá de maçã com canela. Levantou-se da cadeira, deixou o livro ali, em cima do criado mudo, pegou um prendedor de cabelo, foi em direção ao espelho para prende-lo, quando de repente ouviu uma voz bem baixinha, “Como você se sente nesse corpo?” e viu sua imagem, aquela imagem do espelho falando, realmente falando. Elis deu uma resposta imediata “Ora, me sinto como deveria sentir” e a voz rebateu no mesmo instante “E o que é DEVER sentir? Por que você deve sentir em vez de querer sentir?”. Elis balançou a cabeça para sair daquele dialogo denso do eu consigo mesmo.Coisa rara de se acontecer. Foi para a cozinha preparar o seu chá, daí ela percebeu que essas indagações não se referiam apenas a ela, e sim ao todo, as vontades gerais. E as sinceras respostas Elis encontrasse depois de muitos chás, chuvas e livros.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008


Ou você presta atenção nas flores ou, presta atenção no que está atrás.
Analisando bem, tudo fica mais simples quando só se presta atenção em uma única coisa, um único lado, parte, figura, razão...e quando se tenta avaliar os dois, as duas faces? Demora-se mais para compreender, acredito eu. Mas, é a melhor forma? Talvez, depende do seu ponto de vista.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Alice acordou às 7:00 da manhã, depois de uma noite mal dormida. Foi ao banheiro lavou o rosto com um sabonete que tinha um cheiro de criança, e enquanto a água batia no rosto, pensou em ir ao lugar de sempre nos sábados. Vestiu-se, pegou seu chapéu vermelho, segurou a chave e foi em direção a porta. Como o elevador era mínimo e ela morava do décimo nono andar esperava durante alguns minutos, na verdade os minutos eram certos e repetitivos,alternando sempre entre 7 ou 9.Alice já sentia quanto tempo esperaria, não tinha aquela incerteza se o elevador chegaria logo ou demoraria mais. Dessa vez tinham se passado os 7 e ela agora podia sair.

Foi na padaria na esquina do prédio, como de costume, pediu o velho capuccino italiano com um croissant de queijo, comeu lentamente, para sentir o sabor da comida. A cada mordida e a cada gole pensava em algo estupidamente maravilhoso.

Mesmo comendo sempre o capuccino e o croissant, Alice acabava encontrando um sabor diferente a cada mordida e a cada gole.

Pagou a conta, foi a estação de trem, esperou pouco tempo e embarcou para aquele lugar, aquele lugar que lhe fazia muito mais que bem. Em uma hora e trinta segundos chegou. Estava meio nublado naquele dia, mas havia uma luz forte do sol. Uma mistura entre o frio e o calor de um equilíbrio ímpar. Alice desceu e caminhou pelas ruas verdes até chegar no lago, o lago perdido no meio da história do lugar. Sentou-se, pegou algumas pedrinhas e começou a jogá-las de um jeito que dava movimento à água e, enquanto as jogava pensava nas coisas que não conseguia decifrar nem transformar.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Elis chegava em casa numa noite cheia de estrelas. Tirou o seu sobretudo preto e colocou no gancho ao lado da porta da sala, caminhou lentamente até a cozinha, olhou para o relógio, abriu a geladeira e tirou a água. Elis tinha uma sede acumulada, uma sede enorme. Colocou a água no copo, fechou os olhos e tomou rapidamente para matar a sede. Ligou o som, botou um tango, foi em direção ao espelho e começou a dançar. Elis dançava, dançava, dançava... E nesse momento podia ser o que lhe agradava. Sem preocupações, sem medos.
Elis abria o velho guarda roupas em um dia cinza de uma vida cansada. Procurou uma roupa preta entre as brancas e, não achou. O que achou foi à caixa, a caixa das lembranças, a proibida caixa. Naquele momento mais do que nunca um sentimento nostálgico, pesado correu rapidamente da ponta do pé a raiz do cabelo. Estática saiu do ar por algum tempo, percebendo como tudo passa e, quando sintonizou novamente, jogou a caixa no lugar mais distante possível. Elis não gostava das lembranças, ela não costuma lembrar o que acontecera, para tentar manter um equilíbrio fingido.