As horas não param de se repetir. Pego o relógio e
22h22min. É me sinto bem assim. O que mais me deixa triste é saber que as coisas que aconteceram não vão se repetir. Talvez seja um clichê gigante, mas me incomoda profundamente. Eu sabia, estava na frente dos meus olhos, um belo dia ia acontecer, mas eu como ser humano esperançoso e feliz queria crer e sempre crer que o que eu estava vendo era só aquele sentimento ruim de receio que fica no fundo de tudo, apenas isso, apenas.
Mas não foi receio, foi realidade, acabei deixando que isso acontecesse sem me proteger. É aquela velha história/estória de que o que tem que acontecer acontece, mesmo que não se saiba o porquê, mesmo que você não acredite e nada nem ninguém impede.
“Nada é por acaso, meu bem”. Irônico, eu sempre disse isso.
As músicas, todas as músicas já não seriam sentidas da mesma maneira agora. O que antes se sentia com felicidade, saudade, amor, cores, belezas e até algumas raivas mais mesquinhas já não seriam a mesma coisa. Agora sentia uma tristeza, um amor murcho, uma saudade, uma decepção-frustração (o pior de tudo), um questionamento intenso e que parecia não ter mais fim de como as coisas foram tomando essa dimensão. Todas as palavras me pareciam confusas e sem significado, não acreditava mais em nada.
O que estava passando na minha cabeça, no meu corpo e na minha alma ocupava todo o espaço e tempo, não havia mais nada, a não ser um oco. Alguém morreu? Não, acho que não. O que morreu foi a circunstância, a fase longa longa looonga fase.
Disseram:
“não faça isso”, “não olhe isso”, “não pense nisso”, “vire a página o que passou passou”, “olhe minha querida a mudança é a lei da vida. Chegou a sua hora de mudar”, “vamos menina, levanta a poeira e dá a volta por cima”, “você merece ser feliz, baby”.
Não discordo em nada, nada do que ouvi. Confortante-aconchegante. Na verdade é bem difícil bem difícil ouvir isso. Às vezes, quase sempre, é difícil ver, ouvir, falar, sentir, cantar, gritar, pular, dançar...a verdade, pura e simplesmente a verdade. Eu sinto que sempre será/estará junto, que o tempo mora no relógio e as surpresas são todos os dias quando me acordo e começo novamente.
Uma coisa eu percebi. Você não pode mudar ninguém, exceto você mesmo. Sendo eu mesma vou ser diferente e vou encontrar as mais vibrantes cores e os mais vibrantes acordes. Será um tom sur tom. No final das contas a prima-vera e o verão sempre estarão aí.
PS: Pela primeira vez ela deixou de ser narradora e virou personagem.